CRÔNICAS PROF. FLÁVIO DA SILVA
OLIVEIRA
Sempre, aos domingos
09/10/1965
Domingo passado, pela amanhã, sai zanzando por aí. Passei
pelo Clube e pelo Gerola, onde topei alguns amigos bebericando aperitivos. Atravessei
o jardim, em frente à igreja, e fui até à Camponesa. Ali, também, outros amigos
aguçavam com o que estavam ingerindo. Voltei para o jardim e sentei-me em um
banco, na calçada, protegido pelo frescor das verdes copas residenciais dos
“lacerdinhas”. Grupo álacres de “brotos” iam e vinham, seguidamente,
transbordantes de alegria, pois, o grande problema que carregavam, era passear
e gozar das delicias que isso pode proporcionar. Possivelmente, o encontro com
“alguém” trouxesse mais felicidade, se ainda coubesse tanto. Logo abaixo, na
esquina, acomodados em outros bancos ou formando rodinhas, grupos de senhores
circunspectos, garantidamente já passados dos cinquenta, também formavam seus
mundos, na certa para consertar o Brasil, começando pelo próprio Município e
seus administradores. Vez ou outra, notava-se partir dali alguns olhares
furtivos e saudosos, acompanhando o andar de uma “dona” mais provocante...
Enfim, brotos ou madurões – “tuti bona genti” – enchendo o tempo com o tempo
que corre, inexorável e insensivelmente.
Fiquei por ali, sentado e sozinho, contemplativo e quase que
angustiado. O que procuro? O que desejo? Seria um vulto feminino, modelado pelo
meu cinzel egoísta, tal qual a nova Galateia, para ser amada sem restrições e
incondicionalmente? Ou seria a procura do tempo perdido em indagações
filosóficas e transcendentais, que, ainda, não me apontaram o caminho a seguir?
Uma Kombi, com o pneu trazeiro esvaziando, lentamente
encosta-se no ponto de automóveis particulares. Dela, descem várias senhoras, crianças
e o motorista. O cavalheiro, na maior “estica” domingueira, tira o paletó e
arregaça as mangas da camisa, para substituir a roda furada. Mal apanha a
chave, para isso, e, a ele, chega-se um rapaz. Trocam algumas palavras, que não
ouço e o jovem passa a cuidar do serviço. O macaco não quer se firmar, devido à
inclinação do calçamento. Mas três jovens se achegam e, ajudando aqui e ali,
colocam o estepe no devido lugar. Nem bem esperando os agradecimentos, vão-se
embora, como chegaram. As senhoras, as crianças e o cavalheiro, voltam para a
perua que, dando pequena marcha-a-ré, prossegue seu caminho.
As primeiras reviravoltas de meu estômago, mostram-se que
está na hora do almoço e não me faço de rogado. Meus passos, para casa, já nada
têm de contemplativo ou filosófico porque, deixando o coração, carregam o
faminto estômago, comandante indiscutível das emoções. Agora sei o que o
procuro e o que quero, porque um suculento prato de macarronada, gostosamente
está me aguardando...
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