sábado, 13 de fevereiro de 2016

QUI SCRIBIT, BIS LEGIT - QUEM ESCREVE, LE DUAS VEZES

CRÔNICAS PROF. FLÁVIO DA SILVA OLIVEIRA
Sempre, aos domingos
09/10/1965

Domingo passado, pela amanhã, sai zanzando por aí. Passei pelo Clube e pelo Gerola, onde topei alguns amigos bebericando aperitivos. Atravessei o jardim, em frente à igreja, e fui até à Camponesa. Ali, também, outros amigos aguçavam com o que estavam ingerindo. Voltei para o jardim e sentei-me em um banco, na calçada, protegido pelo frescor das verdes copas residenciais dos “lacerdinhas”. Grupo álacres de “brotos” iam e vinham, seguidamente, transbordantes de alegria, pois, o grande problema que carregavam, era passear e gozar das delicias que isso pode proporcionar. Possivelmente, o encontro com “alguém” trouxesse mais felicidade, se ainda coubesse tanto. Logo abaixo, na esquina, acomodados em outros bancos ou formando rodinhas, grupos de senhores circunspectos, garantidamente já passados dos cinquenta, também formavam seus mundos, na certa para consertar o Brasil, começando pelo próprio Município e seus administradores. Vez ou outra, notava-se partir dali alguns olhares furtivos e saudosos, acompanhando o andar de uma “dona” mais provocante... Enfim, brotos ou madurões – “tuti bona genti” – enchendo o tempo com o tempo que corre, inexorável e insensivelmente.
Fiquei por ali, sentado e sozinho, contemplativo e quase que angustiado. O que procuro? O que desejo? Seria um vulto feminino, modelado pelo meu cinzel egoísta, tal qual a nova Galateia, para ser amada sem restrições e incondicionalmente? Ou seria a procura do tempo perdido em indagações filosóficas e transcendentais, que, ainda, não me apontaram o caminho a seguir?
Uma Kombi, com o pneu trazeiro esvaziando, lentamente encosta-se no ponto de automóveis particulares. Dela, descem várias senhoras, crianças e o motorista. O cavalheiro, na maior “estica” domingueira, tira o paletó e arregaça as mangas da camisa, para substituir a roda furada. Mal apanha a chave, para isso, e, a ele, chega-se um rapaz. Trocam algumas palavras, que não ouço e o jovem passa a cuidar do serviço. O macaco não quer se firmar, devido à inclinação do calçamento. Mas três jovens se achegam e, ajudando aqui e ali, colocam o estepe no devido lugar. Nem bem esperando os agradecimentos, vão-se embora, como chegaram. As senhoras, as crianças e o cavalheiro, voltam para a perua que, dando pequena marcha-a-ré, prossegue seu caminho.

As primeiras reviravoltas de meu estômago, mostram-se que está na hora do almoço e não me faço de rogado. Meus passos, para casa, já nada têm de contemplativo ou filosófico porque, deixando o coração, carregam o faminto estômago, comandante indiscutível das emoções. Agora sei o que o procuro e o que quero, porque um suculento prato de macarronada, gostosamente está me aguardando... 

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