Caiu-me nas mãos, num destes dias atrás, uma fotografia dos
escoteiros do nosso então único grupo escolar, hoje chamado Sud Mennucci, para
perpetuar um nome transbordante de recordações, que o seu busto, na entrada,
nas as transmite a ninguém, porque são minhas e comigo irão. Achei interessante
o modo como chegou ela até a mim, contrariando a rotina de um velho
colecionador, sempre atrás de coisas ferreirense. Pelas circunstâncias, não a
desejei: estava sendo oferecida por 70 contos, logo reduzidos para 50, por
quem, talvez, não pudesse fazê-lo, legitimamente. Depois, o mesmo ofertante,
procurou-me em casa, pedindo-me que o ajudasse a vendê-la. Aceitei a incumbência,
com o único intuito de descartar-me, rapidamente, da pessoa e guardei-a, junto
aos meus livros, na estante, para tornar fácil sua devolução. Tenho uma cópia
dessa fotografia, em meus guardados, e sei que foi tirada nos idos de 1929,
quando o escotismo, em Porto Ferreira, foi reorganizado e seus componentes fizeram
uma excursão a São Paulo, onde eu já residia. Por uma simples obra do acaso,
encontrei-me com os excursionistas, durante o desfile comemorativo de uma data
nacional, no qual eu também tomava parte, possivelmente a 7 de setembro. Reconheci
todos, pois, eram meus ex-colegas do grupo escolar mas, nosso contato foi rápido
– todos nós estávamos sob a tutela da Pátria e a Pátria não gosta que se quebre
o ritmo e a ordem das homenagens que lhes são devidas. E assim, a velha
fotografia ficou em minha estante de livros, de bruço sobre eles, muito embora
eu já houvesse dito ao ofertante que não me fora possível vende-la, aguardando
ser levada de volta. Hoje, não sei por que cargas d’águas, peguei-a para
examiná-la. Com os óculos que uso normalmente, para a leitura e munido de uma
lupa (Lupa?) Não seria melhor dizer: lente de aumento? procurei examinara meus
ex-colegas de grupo escolar. Passei os olhos, com a visão bem aumentada, pelo
rosto de todos, um a um. Quantos seriam? Quarenta, cinquenta? Sei, apenas, que
reconheci três ou quatro deles, fora os adultos que ali estavam: o diretor, à
janela do estabelecimento; o porteiro, à porta; um professor, como chefe dos
escoteiros e outro adulto, também fardado, como seu auxiliar.
Afinal de contas, onde andarão aqueles colegas, com os quais convivi
tantos anos e que fizeram parte dos melhores anos de minha vida? Onde estará a
lembrança de suas fisionomias, que me foram tão caras? Estão por ai mesmo, não
há dúvida: alguns mortos, outros, por esse mundo afora e, outros, por aqui
mesmo, ao meu redor, em meu convívio diário. Mas, não são estas pessoas que
procuro e, sim, aquelas carinhas da fotografia, sem maldade e plácidas, que não
consigo identificar, que não consigo trazer ao presente.
- Pudera – dirá o leitor – isso faz mais de quarenta anos que
aconteceu.
Não, meu amigo, não faz tanto tempo assim, que eu brincava e
estudava com aqueles meninos da fotografia, porque foi ontem, mesmo, que tudo
aquilo aconteceu... Podes crer!