GRÊMIO FERROVIÁRIO
FERREIRENSE
O grande contentamento do
repórter esportivo do “Jornal do Porto” é poder estar mantendo um contato
informal com o cidadão ELIAS DOS SANTOS, um dos homens mais queridos e
respeitados por pessoas de todas as camadas sociais de nossa cidade.
Embora não tenha sido um grande
jogador de futebol e somente participando de “rachas”, quando em sua mocidade e
nos longos anos como funcionário da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, hoje
FEPASA, foi um grande colaborados do esporte e incentivador do lazer e mola
mestre para uma interação social de pessoas de
uma cidade que se iniciava para o seu grande desenvolvimento.
P.- O GRÊMIO FERROVIÁRIO
FERREIRENSE, como Clube, teve somente uma fase?
R.- Não. “Uma foi quando os Srs.
Cristiano Kaiser, Américo Mondim, Pedro Fares, Syrio Ignatios e mais alguns
cidadãos formaram um time de futebol, denominado GRÊMIO FERROVIÁRIO
FERREIRENSE”. Por empréstimo, na época, consegui o terreno entre Luiz Gama e
Cel. Procópio de Carvalho, o famoso “campinho da Paulista”, onde memoráveis
partidas futebolísticas foram disputadas. Nessa época eu fazia parte como
colaborador. Outra fase, quando os Srs., Américo Mondim, Antonio Lapa, Inácio
Marques dos Santos e outros abnegados, conseguiram, por empréstimo, uma área de
terreno, onde se encontra hoje, o patrimônio do Grêmio: Nesta época fazia parte
do Conselho Fiscal.
P.- Havia alguma benfeitoria no
local?
R.- Não. Somente mangueiras e
vegetação.
A 1ª diretoria, que tinha como
presidente o Sr. Américo Mondim, construiu um barracão com colunas de madeiras
e sem lateral.
P.- Quando se deu a participação
mais efetiva como homem de proa naquela sociedade?
R.- Na ocasião em que era
presidente o Sr. Inácio Marques do Santos. Era 2º Secretário, mas com a remoção
para outra localidade, o Sr. Eduardo Simões deixou a 1ª secretaria, e, com a
ajuda do Sr. Gentil da estatística assumi o cargo deixado pelo meu colega e daí
demos um impulso ainda maior, pagando todas as dividas contraídas pela
diretoria anterior.
P.- Quem foi o sucessor do Sr.
Inácio?
R.- Meu colega de serviço, Sr.
Pedro Bertucci, que permaneceu por três anos e eu continuei como 1º secretario.
Na oportunidade os Srs. Pedro Bertucci e o inesquecível Paschoal Salzano doaram
lotes de terrenos que foram vendidos e sua renda revertida em favor das obras
da agremiação.
P.- Depois do Sr. Pedro Bertucci
ter ficado 3 anos, quem o sucedeu?
R.- Foi este modesto ferroviário,
em 1959, permanecendo até 1975, por 16 anos e porque não me candidatei caso
contrario, estaria lá até hoje.
P.- Quais os companheiros de
chapa?
R.- O inesquecível Manoel Diniz
Neto, Francisco Rocha, Braz Vanin, Alexandre Diniz, Alberto Bruno, Sr.
Lamellas, Albino Campeão, Alberto Herdorn, Diamantino Jorge Marinheiro e outros
de grande fibra.
P.- Nesses 16 anos, o Sr. e seus
colaboradores o que fizeram para a Associação?
R.- Remodelamos o prédio do
antigo cinema, onde hoje é o salão de bailes e festas. Fizemos as laterais,
forramos, colocamos fluorescentes luminosas, o que não foi fácil, mas graças a
Deus, com as economias, tudo estava saldado.
P.- E foi aí então que começaram
a dar um impulso maior?
R.- Sim. Daí partimos para
aquisição do terreno, que até então era cedido por empréstimo. Muitas dificuldades
encontramos, pois o terreno fora entregue à CAIC – DEPARTAMENTO FLORESTAL DA
CIA. PAULISTA”.
P.- E o que combinaram com a
CAIC?
R.- Eles queriam que nós, dadas
nossas poucas condições, comprássemos apenas a área construída, com o que nós
não concordamos.
P.- Com muito sacrifício,
conseguiram depois, a área que se conserva até hoje?
R.- Dadas as circunstancias, por
ser a mensalidade cobrada, muito irrisória, mas de acordo com as possibilidades
do boldo dos sócios, fomos a São Paulo. Eu e o saudoso Manoel Diniz Neto,
mantivemos lá, contato com o Dr. Cintra e pedimos a ele o adiantamento para
saldar a primeira prestação e o parcelamento maior, pois a quantia total era na
época bastante alta, num montante de 575 mil cruzeiros que deveria ser paga
quase à vista. Conseguimos um parcelamento em parcelas trimestrais de 55 mil
cruzeiros, dinheiro da época. Mas como pagar se arrecadávamos somente 9 mil
mensais?
P.- Sr. Elias, queria saber e
suma, como conseguiram pagar o terreno?
R.- Quase sem esperanças, mas com
vontade incontida de vencer, Deus dá mais uma mãozinha. Estávamos eu e o Sr.
Pedro Bertucci trocando por zinco e revestimento de tábuas podres das
barquinhas, quando dois senhores do lado de fora da cerca perguntaram: “Por que
não mandam fazer em oficinas, assim é muito sacrifício?” Respondemos: não temos
condições nem de pagar o terreno que assumimos compromisso, como é que vamos
jogar dinheiro fora, quando nós mesmos podemos fazer!
Os dois senhores pediram
permissão para entrar. Pois não, dissemos. A casa é dos amigos. Sabem quem
eram? Um deputado Dr. Lauro Posi, de Pirassununga e seu assessor.
Entusiasmado com o nosso trabalho, Dr. Lauro, então Deputado
Estadual, em sua visita, prometeu e mandou ao Grêmio 50 mil cruzeiros e vários
caminhões de cascalho para o pátio. A verba e algumas economias deram para
pagar o primeiro trimestre de 55 mil cruzeiros.
P.- Como conseguiram pagar o
restante?
R.- Como o Sr. Oswaldo Cunha
tinha dado ao Porto Ferreira Futebol Clube 50 mil cruzeiros,depois das
reclamações de nossa parte ele solicitou que constasse em orçamento uma verba
de 20 milhões de cruzeiros, que posteriormente fora paga pelo Sr. Joaquim
Coelho Filho, dinheiro de seu bolso, pois em sua gestão não contava a
prefeitura, com numerário suficiente, para efetuar o pagamento. Naquela época
as verbas eram permissíveis.
P.- Como começou a exibe filmes?
R.- O Grêmio Ferroviário já
contava nas diretorias anteriores com um projetor fixo e mudo de 8 milímetros ,
adquirido do meu amigo Leonildo Braga. A tela tinha de ser molhada antes das
exibições. Quando da gestão do Pedro como presidente, ganhamos uma máquina
cinematográfica sono e dinâmica, do deputado Vicente Bota, de 16 mm . Foi tudo bem até que
as grandes empresas de filmes da época atendiam de maneira mais acessível aos
empresários de cinemas que possuíam projetor de 35 mm . Assim como dissemos
adiante, foi também a luta pela aparelhagem de 35 mm .
P.- Logo da compra da máquina de 35 mm , começaram a usá-la?
R.- Não. Colocamos em 2 cômodos,
onde é hoje a casa do Sr. Valdomiro do Prado, funcionário do Grêmio e fizemos
no salão velho, a estrutura para colocá-la e a exibição de filmes.
P.- Depois de imenso sacrifício,
parou com as obras?
R. O Sr. acompanhou o nosso
trabalho na construção daquele prédio maravilhoso que hoje está alugado pela
empresa do Sr. Taufic, e pode avaliar como eu e meus companheiros de chapa
trabalhamos. É lógico que contamos com o apoio de muita gente, como por
exemplo, do Sr. Oswaldo Cunha que nos acompanhava em todas as empreitadas na capital de São Paulo e não nos deixava
esperar em filas. O Sr.
Oswaldo Cunha tinha ótimo relacionamento e nós éramos atendidos na hora, quando
de doações e empréstimos. O Sr. Paschoal Salzano, o Sr. Nadir Mariano, as
Industrias de Porto Ferreira e porque não dizer todos os ferreirenses.
P.- Como conseguiram a planta do
prédio do cinema?
R.- Com a ajuda do Leonildo Braga
conseguimos gratuitamente, pois ele tinha amizade com o Sr. Pedro Corazza, que
é engenheiro e prazerosamente nos presenteou. O incansável José Zaniboni foi o
supervisor da obra e com sua capacidade nos legou aquele maravilhoso prédio do
Grêmio. Meu cunhado João Miotto, foi o pedreiro construtor e com seu capricho
na arte também deu aquela mãozinha. Outra pessoa que não poderia deixar de
mencionar como grande colaborador é o Cônego Pavesi que nos emprestou 5 milhões
de cruzeiros, na compra das poltronas e sem juros.
O Sr. Deputado Aristides Trancoso
Peres, deu na época 1 milhão e duzentos mil cruzeiros, quando se fazia
acompanhar do ex-prefeito Oswaldo Cunha.
P.- É verdade Sr. Elias, que o
senhor mesmo é quem fabricou as calhas e fez o encanamento, isto é, todo o
serviço de hidráulica, gratuitamente?
R.- É verdade. O maior orgulho é
poder falar ao senhor que, lá no Grêmio deixei a minha mocidade, nem casa para
mim nunca me importei em construir e não dei a atenção aos meus filhos. Não me
arrependo por isso. Fiz de coração e que me conhece pode bem avaliar as minhas
ações.
P.- E o campo de bocha, na gestão
do senhor é que foi construído?
R.- Sim. Lá também contamos com o
apoio dos jogadores que com seu trabalho gratuito, muito nos auxiliou.
P.- Qual é a maior alegria como
diretor do Grêmio Ferroviário Ferreirense?
R.- é ter deixado tudo construído
sem dividas e com 7 mil cruzeiros em caixa para serviços ou despesas eventuais
que na certeza iam aparecer. Sei que dividas não as deixamos e sim um lindo
patrimônio.
P.- Qual a sua maior tristeza?
R.- É saber que o patrimônio não
progrediu mais, e sim decaiu.
- O jornal está à disposição para
suas despedidas.
- Do fundo do coração quero
agradecer ao Sr. João Roberto Bellini, proprietário do “Jornal do Porto”, esta
beleza que deveria ter nascido antes para contar os feitos da gente
ferreirense.
Jornal do Porto,
setembro de 1997
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